quarta-feira, 28 de abril de 2010

Brega na classe média é moda?




Escrever uma tese é um trabalho árduo, que exige disciplina, concentração, perseverança, y antes de tudo é um trabalho extremamente solitário. É claro que tem sempre alguém querendo saber como as coisas estão, se seu trabalho está progredindo, se você precisa de alguma ajuda. Mas é só.

É certo que também temos alguns anjos da guarda, pessoas que se dispõe a te acompanhar no campo. No meu trabalho um acompanhante é fundamental, tenho me metido em alguns lugares da periferia onde é impreterível alguém estar junto comigo, o risco não está exatamente nos locais que frequento em busca do meu objeto, mas nos acessos a eles, e como nem sempre sei chegar a esses lugares algumas vezes tenho que parar pra perguntar, o que muitos consideram arriscado.

O que é certo é que minha pesquisa tem tomado um rumo muito interessante, tenho feito boas descobertas, trabalho em cima de um objeto riquíssimo que me permite fazer diversas abordagens, é um elemento vivo que a cada momento me mostra uma nova faceta. É diverso e apaixonante. Ele fala, e a cada instante me aponta seus próprios caminhos.

Acho incrível que tenho lido muita teoria, tenho também lido trabalhos de outro investigadores, mas vejo que os objetos em geral aportam muito pouco, todos se detem muito à teoria e o objeto meuio que se perde dentro dela. O que está acontecendo com meu trabalho é que de tão reprimido, exilado, e bombardeado por toda sorte de críticas e preconceito o Brega tem resistido firmemente e procurado seu espaço, à sua maneira eles vão se infiltrando, mantendo seu posto hegemônico nas periferias e entrando cada vez mais nos salões e festas de jovens de classe média, retomando espaço nos meios massivos e tento éxito inclusive no âmbito publicitário, anunciando produtos populares.

Outro fato interessante na pesquisa é ver que a maneira de consumir do "Bregueiro" diverge da classe média, não só em valores mas em hábitos e gostos. O Bregueiro de bairro não desce o morro pra ver o brega no ambiente classe média por que o ingresso é caro, a ceveja é cara, o tiragosto idem, já o jovem de classe média não arrisca seu carro, seu relógio, carteira, celular de última geração ou a vida, para consumir o brega na fonte. Diferente do que ocorre no Rio de Janeiro nos Bailes Funk. Daí que me surge a dúvida, brega na classe média é moda? Que tipo de valor está sendo imputado ao brega nestes ambientes? Porque o Brega consumido nas periferias tem status de cultura, cultura híbrida, cultura periférica, e no seu habitat natural eles são hegemônicos, são o centro. Não raro eu como pesquisadora me sinto à margem dos acontecimentos, sou extrangeira, periférica. O que já chegou a me incomodar, mas logo percebi que para estudá-los não necessito ser um deles, mas respeitá-los, deixá-los falar, serem eles mesmos, e hoje mais que respeito, tenho verdadeira admiração pelo movimento, pelos seus artistas e consumidores. Pelas suas rotinas, por suas vidas, suas histórias.

Vou deixando vocês por aqui e retomando meus escritos e minhas gravações por aqui.
Nos encontramos Por aí...
Bjs

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