segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Encontrando Kelvis Duran






Outra vez me desloco de Piedade para TV Nova em Olinda, desta vez por uma ótima causa, preciso entrevistar Kelvis Duran “ O Príncipe do Calypso”, primeiro tratei com D. Graça, empresária, uma senhora supersimpática, foi bem receptiva e ficou muito interessada na pesquisa, o que já me deixou a vontade para tratar sobre o próximo passo, período de observação e entrevista em profundidade, registrado em vídeo para futuro documentário.

Ela topou de cara ele também.

O grupo chegou por volta das 16:15 para se apresentar ao vivo as 17:00, Kelvis, um casal de bailarinos e a vocalista que divide cena com ele, foram se trocar e iniciei a conversa com D. Graça, me pareceu extremamente esclarecida e bem resolvida no seu trabalho, sabe o que quer para seu artista. Crítica e de idéias claras e objetivas, ela resume o porque de o Brega ter perdido espaço na mídia dizendo que as próprias bandas se destroem entre si, que existe um canibalismo, e que ao invés de se juntarem pra fazer o negócio direito muitos brincam de “fazer banda”, incham o mercado, brigando por espaço em casa de shows e cobrando cada vez menos por um show, gerando um mercado de baixo nível, baixa qualidade e causando o fim delas mesmas. São cachês baixíssimos, que não sobra nem para transportar os integrantes da banda, que se deslocam de ônibus, que acabam o show e ficam na rua, sentados nas calçadas, esperando ônibus, ou a sorte de uma carona. Não conseguem produzir um bom figurino, não tem boa qualidade nas gravações, dependem de favores.

Alega que seu diferencial está em não aceitar cachês baixos para não perder a qualidade do seu produto, e como o mercado local está inchado e com cachês insignificantes ela leva a banda dela pra fazer show no interior, e pra eles não falta apresentações, até 3 por semana.

Kelvis é uma pessoa sossegada, não parece afetado pelo “estrelato”, me recebeu bem e me deu algumas informações valiosas, que não posso falar agora para evitar “espionagem intelectual”. Apesar do seu diferencial ele tem as mesmas origens e os mesmos hábitos culturais e de consumo dos outros tantos que entrevistei, aceitou ser um dos meus personagens de observação e reconhece que o mercado da mídia se fechou para o Brega, de alguma forma, depois do episódio do envolvimento daquele apresentador, que não convém mencionar, com prostituição e abuso de menores. O ministério público e seus ajustes de condutas, e a censura interna dos programas de alguma emissoras causaram uma crise de identidade no Brega, alguns foram cantar suas músicas em ritmo de forró, outros vestiram mais roupas e tiraram os conteúdos picantes das letras, outros simplesmente acabaram, e outros voltaram para a periferia, onde podem cantar o que querem, vestir o que querem, dançar com querem e sempre vão ter seu público, como sempre o tiveram mesmo antes de invadir os meios.

Entrevistei os componentes da banda, também estão na média da estatística, seus hábitos culturais e de consumo não fogem à regra.

A apresentação no programa é curiosa pois o figurino a la Michael Jackson e os movimentos a la Rick Martin nos deixa claro suas influencias, imaginem juntos a roupa do Pop com o rebolado do ex-Menudo e as letras do príncipe do calypso? FENOMENAL é muita hibridização, é muito ressignificação.

O certo é que estou tentando me adaptar ao meu objeto, é um processo rico e de construção paulatina do conhecimento sobre ele, é quase impossível não vir com conceitos preconcebido, mas tenho muito o que aprender e que limpar todas as obviedade que achei que encontraria e reconstruir meus conceitos.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Terceiro contato, consumidores 100% Brasil






Noite de quinta-feira, 18:30, hora do rush na Conde da Boa Vista, um pastor prega com mega fone na esquina, paradas de ônibus lotada de gente estressada querendo voltar para casa, rua 7 de setembro movimentada, pessoas largam do trabalho e voltam para casa.

Vendedores de DVDs piratas fazem promoções, 3 por R$10, shows, filmes e séries... carros de espetinho, pastéis, coxinha, milho cozido e amendoim, tem de tudo no “vuco-vuco’ do comercio informal.

Anoitece a casa abre: 100% Brasil show das bandas spartilho, 100%, e PP e Ourisamba, me apresento, peço para olhar o espaço,_ Sem Fotos! está vazio, garçons sentados, banda passando som, nenhum cliente entrou ainda, fico ali na frente esperando os primeiros freqüentadores. Pensei comigo: _ Não vai ser fácil, só devem vir homens casados, para pegar mulher solteiras. Ou me enganei ou as pessoas mentem bem, apesar de achar que estavam sendo sinceros, até pela idade dos freqüentadores, me pareciam dizer a verdade. E eu mais uma vez usei de preconceito e quebrei a cara.

Muitos homens, jovens, solteiros, recemsaídos do trabalho, buscando diversão, tomar algo, e se estiver muito fácil sair de lá acompanhados. As mulheres que entrevistei estavam acompanhadas, mas também haviam grupos de mulheres solteiras e sós. Os perfis são muitos parecidos com o anterior, no Clube Português cinco dias atrás.

São consumidores fiéis que gastam sempre mais de R$20,00 em cada saída “pro Brega”. O Brega deixou de ser adjetivo, virou substantivo. Brega não é só a roupa que se usa, nem a música que se ouve, nem uma maneira de se portar, Brega é o ambiente, é o local, as pessoas saem de suas casas, de seus trabalhos, de suas escolas para ir ao Brega.

Mais uma vez subestimei a quantidade de gente, achei que seria pouca gente e que não iam querer responder os questionários, mas em uma hora tinha entrevistados 10 pessoas, e não tinha mais questionários, ou seja, semana que vem volto lá, desta vez pra ficar mais tempo, entrar no clima e quem sabe arriscar uns passos.

Desta vez fui inclusive convidada a entrar e fazer companhia a um dos entrevistados, mas sabe como é? não se pode misturar a ciência com a diversão, apesar de me parecer impossível pesquisar o Brega e não se envolver intimamente com ele.

O que me deixa bastante surpresa é que as pessoas são receptivas a pesquisa, acham interessante serem pesquisados, é como se nunca tivessem sido questionadas e agora fazem parte de alguma estatística. Como se pela primeira vez o que é dito por eles será levado em conta.

Uma coisa é certa tenho que voltar lá, próxima quinta, com mais tempo pra ficar na observância...

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Segundo contato, agora com consumidores...

Segundo contato

Primeiro grande encontro do Brega, um espetáculo grandioso com quinze bandas para se apresentar, ingresso R$10,00 preço superpopular, expectativa de público 5.000 pessoas, e eu estava lá apreciando o movimento e fazendo meus questionários com o público alvo.

Resolvi buscar informações direto da fonte, no foco do consumo por que algumas vezes as pessoas não admitem que consomem Brega e por vezes até demonstram algum tipo de preconceito com o ritmo, e como meu foco são os usuários e não os críticos fui direto ao ponto.

Início da noite cheguei pouco antes das 20:00, no local apenas vendedores ambulantes de cerveja e espetinho achei um tanto vazio, pouco movimento, talvez não lotasse como se esperava, o movimento na bilheteria era raro, pensei comigo: _Hi! não vai dar ninguém, comecei a fazer os questionários, algumas pessoas estavam com pressa por iam encontrar amigos e não quiseram responder, outra ficaram curiosas e até chamaram outras, depois do quinto descobri com meu entrevistado que estava no local errado, estava na porta de fundo do Clube, que a entrada era do outro lado e por isso não havia quase ninguém ali. _ Ufa! Que bom! Achei que não teria gente suficiente...

Ao chegar do outro lado qual não é minha surpresa ao ver a quantidade de gente, a avenida está fechada para carros e o povo toma conta de um lado a outro. Tem gente de todas as cores, classes, e lugares que se possa imaginar, a maioria deles com uma latinha de cerveja na mão, fazendo o “esquenta” com eles dizem. Curioso é também notar a variação de idade, os mais jovens buscando companhia, os mais velhos dançar e se divertir, o gosto pelo ritmo vem de berço, seus pais já ouviam o brega e como é um ritmo dançante no qual se dança aos pares fica mais fácil de se aproximar das pessoas e quem sabe até “dar uns beijinhos”.

Ali, todos juntos e misturados não se sabe muito bem diferenciar quem é pobre, quem é menos pobre, quem tem algum dinheiro, são mais ou menos todos iguais. Usam roupas, sapatos e bonés aparentemente de marcas, mas muitos confessam nos questionários que são produtos piratas. A abordagem não foi tão difícil como eu pensei que seria, as pessoas foram receptivas e curiosas sobre a pesquisa, pena que não houve muito tempo para apreciar o movimento e entrar no clima de festa, estava fazendo os questionários só e tinha que render a noite, afinal pesquisa quantitativa requer produtividade. Mas já decidi, das próximas vezes vou mais devagar para poder apreciar e observar com mais atenção.

Eles são diferentes entre si, de bairros, profissões e nível de escolaridade diferentes, mas tem hábitos iguais, se divertem em bares, praia e bailes, não tem hábito de ler, raramente vão ao cinema, nunca vão ao teatro, assistem muita televisão, alguns ouvem rádio o dia inteiro, outros só algumas horas, mas todos ouvem, ganham entre 1 e 3 salários mínimos, muitos usam computadores/internet em lan-houses para bate-papo e estudo, e a imensa maioria quando vai aos bailes gastam mais de R$ 20 na noite, alguns além de gastarem no baile gastam com a preparação: Uma roupa nova, ir no salão fazer unhas e cabelo etc. outra quase unanimidade é o consumo de produtos piratas, CDs e DVDs são campeões de consumo, mas roupas e acessórios piratas podem ser vistos em muitos dos freqüentadores, muito embora não os tenha entrevistados a todos mas é visível o número de camisas e tênis de origem duvidosa.

O certo é que no início achei que a festa poderia fracassar, ter pouca gente, e ao final pude perceber como o Brega mobiliza as pessoas e como elas se deslocam de seus bairros, não importa a distância, para se divertirem cada um a sua maneira mas todos embalados pelo mesmo ritmo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Primeiro contato

Depois de alguns contatos telefônicos finalmente parto para o primeiro encontro com meu objeto de pesquisa, saio de casa de carro, ar condicionado ligado, ouvindo música no rádio, uma estação eclética, que executa músicas atuais, nacionais e internacionais de qualidade, aí pergunto o que seria música de qualidade? quais são os parâmetros para definir qualidade? A partir de hoje começo meu contato com o Brega meu objeto de investigação para a tese doutoral, mas não costumo ouvir Brega, nem tenho muita intimidade com este tipo de música. Começo aqui um grande desafio de aproximação, me distanciando de todo e qualquer preconceito e julgamento, sem muito juízo de valor.

Chego nas instalações da TV Nova Nordeste, Morro do peludo, Olinda, parece abandonada, nã tem porteiro, ninguém para dar informação, todos entram e saem do local livremente, faço uma ligação, sou recebida por uma ex-aluna que trabalha no local e igualmente sem me identificar entro... Conheço a produtora do Programa Tarde Legal, Dèbora, que em breve pretendo entrevistá-la, o apresentador Marcos Silva e sigo para o estúdio onde vão gravar o programa, um local extremamente pequeno, ali me familiarizo com o espaço e sigo para os camarins onde os "artistas" se organizam para entrar em cena.

São pessoas "normais" com roupas "normais" que chegaram lá de ônibus de linha, carregando suas "roupas de apresentar" em sacolas plásticas de supermercado, são quatro moças e um rapaz com idades entre 15 e 20 anos que fazem parte da banda Sabor do Calypso, baixa escolaridade, poucos sonhos e que cantam brega por que gostam, não dão uma maior relevância ao fato como "tanto faz". Elas ganham em méda 01 salário mínimo, cobram entre R$20 e R$35 por apresentação e gastam tudo com lazer, Alegam não ter havido nenhuma mudança econômica ou melhoria de vida com o Brega, ao mesmo tempo se não fosse o Brega estariam desempregadas e sem renda para o lazer. Não leem, não frequentam cinema nem teatro, se divertem na praia ou feirinhas de bairro, assistem uma média de 8 horas diárias de televisão, uma a duas horas de rádio quando estão fazendo "as coisas".

Não acreditam que Brega é cultura, ao mesmo tempo não sabem dizer o que seria cultura, talvez ler, ir ao cinema e ao teatro, coisas que não costumam fazer... Fazem uso de computadores e internet nas lan-house do bairro ( Águas Compridas) para bate-papo e orkut e costumam consumir produtos piratas como CD, DVD e roupas.

O rapaz tem uma cuida de uma pequena gráfica, cobra entre R$40 e R$60, somando show e gráfica recebe quase 3 salários mínimos, também diz que o dinheiro com o brega, que gasta com roupas e poupa alguma coisa quando sobra, não modificou sua vida nem da família, assiste muita tv, não lê, não vai ao cinema nem ao teatro, se diverte na igreja: é evangélico, usa computador no trabalho e em casa para pesquisas e downloads.

Entrevistei ainda a vocalista da Carta de Baralho, que diz não ser Brega, "_Fazemos forró!" mas tem a mesma temática do Brega... Solange se veste de cowgirl e usa um violão cor de rosa, tem 23 anos, casada, com ensino supeior incompleto em Marketing, ganha até 5 salários mínimos, sendo R$ 1000 fixos e R$ 150 por apresentação. Apesar disso dia que a música não mudou sua vida financeira, gasta seu dinheiro em roupas, produtoas de beleza e poupa o que sobra. No tempo livre faz ginástica, pinta e lê romances e livros técnicos de pintura, seu lazer é tv e praia, não vai ao cinema com frequência, vai ao teatro umas 06 vezes ao ano. Usa computador em casa para trabalho, faz uso de aparelhos eletrônicos de última geração e consome cd e dv piratas.

Na banda Kitara identifiquei meu primeiro entrevistado om que realizarei a entrevista em profundidade e a observação, o primeiro personagem do meu documentário. Rodrigo Mel è cantor, produtor e compositor e várias músicas de sucesso nas bandas de Brega e forró, inclusive sucesso nacional com "grandes bandas" do forró estilizado. Aos 31 anos ele é um exemplo de perseverança, há mais de 5 nos vem lutando para fazer sucesso com sua banda, e finalmente chegou seu momento. A banda faz em média 5 shows por semana, ele ganha mais de 5 salários mínimos entre apresentações e direitos autorais de suas composições. Deve ao Brega bos parte de suas conquistas em termos financeiros, tem apenas o segundo grau e investe o que ganha em roupas saúde, família, lazer, poupança, além de reinvestir parte na atualização da banda, figurino, instrumentos e novas tecnologias. Para se divertir assite filme e vai a praia. Assiste TV, lê pouco, ouve muita música de todos os gêneros, e não costuma frequentar cinema e teatro. Acredita no Brega como cultura por retratar musicalmente o comportamento da sociedade em que vivemos. Usa computador para pesquisa, downloads e negócios. Faz uso de novas tecnologias e também usa produtos piratas. Ele namora a vocalista da banda Carla Alves, 19, que ganha 2 salários cobra R$100 por apresentação, e sua vida melhorou muito quando entrou para a banda, acabou de contruir a casa onde vive com a família e melhorou sua alimentação além de fazer um plano de saúde privado. Tem mais ou menos os mesmos hábitos de seu nomorado, não vai mais ao cinema e ao teatro poruqe ele não acompanha. atualiza seu blog e faz pesquisa em lan-houses perto de sua casa, também faz uso de produtos piratas, cd e dvd.

Aqui descobri por onde darei meus próximos passos, onde vou perseguir o Brega.
E um vasto e rico campo de atuação, sábado estarei no 1º grande encontro de Brega no Clube Português para entrevistar consumidores e fotografar o ambiente.