quinta-feira, 19 de abril de 2012

Sobre "Ocupar" e "Desocupar"


Em meio a debates acalorados, enxurradas de opiniões, necessidades de tornar Recife uma cidade acolhedora, humana, viva, dar-lhe mobilidade, serviços públicos de qualidade, transportes coletivos eficientes, ocupação do espaço público, investimentos em segurança pública para que possamos sair nas ruas sem medo de ser assaltados, deixar nossos carros em casa e fazer pequenos trajetos a pé, de bike, de busão, pegar bacurau no Cais de Santa Rita, vi que precisamos mudar nossas atitudes. Isso se chama desenvolvimento inteligente. As cidades são para as pessoas nós somos responsáveis por deixar ou não que o poder público faça “dela” o que quiser e se realmente queremos que algo mude, temos que começar por nós mesmos.
Já passou da hora de manifestar nossa indignação com o que fizeram com nossas cidades... Recife é uma cidade excludente, que só recebe seu “povo” no carnaval. Que não respeita o cidadão, que favorece a formação de bolsões de “riqueza” e “pobreza”, que valoriza o padrão milionário dos grandes empreendimentos imobiliários e esquece, esconde, faz de conta que não existem favelas, comunidades inteiras de excluídos, sem direito às necessidades básicas. Educação, saúde pública, habitação, saneamento, lazer...
Aí eu digo: é muito fácil ficar no discurso, né não?.
Quantos de nós que ficamos presos em engarrafamentos abrimos mão do carro e do ar condicionado? Ah, o trânsito está um inferno? E você está fazendo pra melhorar isso? Aumentando o som do seu carro? Reclamando no Facebook no seu Smartphone? Comprando outro carro por que seu/sua marido/esposa está chegando tarde e um carro só está atrapalhando o dia a dia? Seu filho passa no vestibular e você o presenteia com um carro? Tira o carro da garagem para ir na padaria a 3 quadras da sua casa? Não vou de bike por que é um calor do carai? Não vou a pé porque ninguém merece?
Então não reclama!
Recife não tem infraestrutura pra receber tantos carros e achar que construir viadutos, estacionamento para empilhar carro, Via Mangue, Via “nunseiquê”, vai resolver o problema é engano. Enquanto não tivermos transporte público de qualidade (busão e metrô), ciclovias, ruas com calçadas dignas e arborizadas que convide a uma caminhada, nada disso vai mudar.
As cidades que deram certo, do ponto de vista do cidadão, favorecem essa ocupação, o comercio é próximo, estão a seu alcance, não é necessário se deslocar do seu bairro para fazer qualquer tipo de compra ou serviço. Evita excesso de carro, trânsito e o inferno dos estacionamentos de shoppings. Recife se transformou em pequenas ilhas, todas afastadas das áreas residenciais, o que praticamente obriga a população a tirar o carro da garagem pra fazer tudo. Poucos são os bairros que possuem comércio, academias, serviços por perto. A cultura do shopping afasta o cidadão da cidade.
Aí eu pergunto de novo: Quantos de nós estamos dispostos a abrir mão da “segurança”, conforto, ar condicionado e facilidades de um shopping? Ambiente claustrofóbico, que impulsiona o consumismo, entupido de gente que esbarra em você e nem sequer pede desculpa, que brigam nas filas, que brigam por vagas no estacionamento, que igualzinho a muitos de nós só sabem reclamar, agir que é bom “NECAS”.
Passou da hora de deixarmos de reclamar e agir. Se “ocupa” ou “desocupa” não sei, mas uma mudança deste porte deve ser discutida pela sociedade, não imposta por construtoras, aceitas pelo poder público e a sociedade assistindo a tudo com a boca escancarada, banguela, esperando o rolo compressor transformar nossa cidade, sim porque a CIDADE É NOSSA, em um paredão de concreto, cercada de grama artificial por todos os lados.
Agora uma coisa é certa, vamos tomar atitudes que favoreçam a discussão, o “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço” está ultrapassado, é antigo demais pra quem quer ter uma cidade viável, devemos tomar atitudes proativas e responsáveis, pois nós somos os principais responsáveis pelos engarrafamentos, pela falta de qualidade de vida, por não ocupar a cidade.
Hoje, estou longe, em Barcelona, um exemplo de cidade que deu certo. Aqui as pessoas passeiam nas calçadas dos bairros, existe acessibilidade para pessoas deficientes, idosos, existe mobilidade, o transporte público funciona (ônibus, trens e metrô), as principais avenidas tem ciclovias, os semáforos são para motoristas, ciclistas e pedestres. Aqui como deveria ser em todos os lugares, a prioridade no trânsito é de quem está fora do carro. O maior é responsável pelo menor. Aqui se respeitam as faixas de pedestre, se respeita a bike como meio de transporte.
Aí eu pergunto: é tão impossível assim que isso aconteça no Recife?
Eu de minha parte adoro como Barcelona funciona mas não queria ter que viver aqui pra sempre, prefiro acreditar que não é preciso ir embora de Recife pra viver uma cidade civilizada, que é possível transformar nossa realidade, que podemos reivindicar nosso espaço como cidadãos, que nossa mentalidade ainda tem muito que evoluir, e que mesmo longe do atingirmos este ideal, estamos no caminho certo.
OCUPE RECIFE!