terça-feira, 3 de novembro de 2009

Morro da Conceição, 01/11/09






Pela primeira vez tomei coragem e encarei a subida do morro pra ver um bregão, é incrível que em pleno domingo as pessoas se aglomerem e fiquem até as cinco da manhã, tudo bem que n outro dia seria feriado, mas isso acontece todos os domingos.

Já na chegada, nos pés do morro, ainda na Av. Norte uma confusão, um corre-corre, alguém tinha acabado de assaltar uma senhora, e todos correram, uns atrás do bandido, outro pra socorrer a senhora, já fiquei torando o aço... comecei bem!

A festa começa as onze da noite, achei supertarde, mas cheguei cedo, encontrei uma ex-aluna que me ajudou na tarefa de chegar no local, eu para trabalhar ela pra se divertir, é freqüentadora assídua e foi minha primeira entrevistada da noite. Quando cheguei não tinha ninguém, mas assim que acabei minha primeira entrevista, começou a chegar gente, alguns casais, alguns grupos de amigos, mas as coisas começam a esquentar depois das onze da noite.

As pessoas são de classe baixa, ganham pouco, entre um e três salários mínimos, muitos casados, com família, outros em busca de companhia, parecem extremamente felizes, todos tem problemas financeiros, dívidas, alguns tem nome sujo no SPC, mas “_ Não vão ficar em casa chorando as pitangas” por que isso não resolve seus problemas, ele vão dançar, encontrar os amigos, tomar sua cerveja e com sorte encontrar um companheiro(a). Vão dispostos a gastar o que tiver no bolso: “ _ Se tem R$ 5, gasto cinco, se tiver R$ 100, gasto cem, e se não tiver nada, arrego dos amigos”. “ _ As vezes bebo mais quando venho liso”

As bandas chegam aos bandos em vans e microônibus, os artistas em nada se diferenciam do seu público, ainda estão à paisana, não chegam montados de maneira que é até difícil conseguir identificá-los. Chegam carregando suas sacolinhas com figurinos e muito tranqüilos entram no clube, passam desapercebido pela multidão. Não há algazarras nem gritarias, que muitas vezes acontecem com artistas pop.

Fico em dúvida se vou entrar ou não, mas decido por entrar, incentivada pelo meu marido, querido companheiro nesses meus momentos pesquisadora social, participa, incentiva e ajuda muito. Entramos.

O local é escuro ainda está vazio, as bandas não começaram a tocar, tem um DJ e as pessoas começam a chegar já com sua birita na mão, formam algumas linhas, homens e mulheres se balançam no ritmo da música ainda um pouco tímidos, mas quando o salão vai enchendo, vai ficando mais apertado eles vão se chegando e começam a dançar. A dança é extremamente ousada e sem pudor, eles se amassam literalmente, é um festival de esfregaço, enquanto elas sobem e descem nas pernas deles, com movimentos pélvicos de fazer inveja a Elvis, o tempo vai passando, o salão enchendo e os casais se formando, vemos claramente que não existe nenhuma preferência pelo “belo”, e nenhum problema com as formas corporais, é um espaço totalmente democrático onde todos tem uma chance de conseguir um parceiro. Seus rostos e corpos exalam prazer nos movimentos sexuais, praticamente transam, só que com roupa, e não pensem que é exibicionismo, eles não estão nem aí para os outros, a performance é para o parceiro.

Devo confessar que não tive paciência para me dedicar muito tempo à observação, fiquei um pouco mais de 1h30, o barulho é intenso, o calor é grande, até tentei arriscar dançar, mas me deu vergonha, não me senti a vontade, ali definitivamente não é o meu lugar, talvez com o tempo eu consiga, mas o ambiente não me é familiar, com esse estranhamento é melhor não insistir.

Na saída a rua estava tomada, uma grande multidão querendo entrar no local que já estava cheio, na rua muitos carros e motos, foi difícil manobrar e sair, os motoqueiros faziam arruaça, mas como temos amor a vida ficamos esperando o melhor momento de conseguir passar pelo tumulto e ir pra casa. Que aventura!

Sai de lá com a sensação de dever cumprido, foi muito proveitoso, com certeza precisarei voltar, dessa vez com permissão para gravar. Não sei se vai ser possível mas de qualquer forma, vou arriscar.

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