Outra vez me desloco de Piedade para TV Nova em Olinda, desta vez por uma ótima causa, preciso entrevistar Kelvis Duran “ O Príncipe do Calypso”, primeiro tratei com D. Graça, empresária, uma senhora supersimpática, foi bem receptiva e ficou muito interessada na pesquisa, o que já me deixou a vontade para tratar sobre o próximo passo, período de observação e entrevista em profundidade, registrado em vídeo para futuro documentário.
Ela topou de cara ele também.
O grupo chegou por volta das 16:15 para se apresentar ao vivo as 17:00, Kelvis, um casal de bailarinos e a vocalista que divide cena com ele, foram se trocar e iniciei a conversa com D. Graça, me pareceu extremamente esclarecida e bem resolvida no seu trabalho, sabe o que quer para seu artista. Crítica e de idéias claras e objetivas, ela resume o porque de o Brega ter perdido espaço na mídia dizendo que as próprias bandas se destroem entre si, que existe um canibalismo, e que ao invés de se juntarem pra fazer o negócio direito muitos brincam de “fazer banda”, incham o mercado, brigando por espaço em casa de shows e cobrando cada vez menos por um show, gerando um mercado de baixo nível, baixa qualidade e causando o fim delas mesmas. São cachês baixíssimos, que não sobra nem para transportar os integrantes da banda, que se deslocam de ônibus, que acabam o show e ficam na rua, sentados nas calçadas, esperando ônibus, ou a sorte de uma carona. Não conseguem produzir um bom figurino, não tem boa qualidade nas gravações, dependem de favores.
Alega que seu diferencial está em não aceitar cachês baixos para não perder a qualidade do seu produto, e como o mercado local está inchado e com cachês insignificantes ela leva a banda dela pra fazer show no interior, e pra eles não falta apresentações, até 3 por semana.
Kelvis é uma pessoa sossegada, não parece afetado pelo “estrelato”, me recebeu bem e me deu algumas informações valiosas, que não posso falar agora para evitar “espionagem intelectual”. Apesar do seu diferencial ele tem as mesmas origens e os mesmos hábitos culturais e de consumo dos outros tantos que entrevistei, aceitou ser um dos meus personagens de observação e reconhece que o mercado da mídia se fechou para o Brega, de alguma forma, depois do episódio do envolvimento daquele apresentador, que não convém mencionar, com prostituição e abuso de menores. O ministério público e seus ajustes de condutas, e a censura interna dos programas de alguma emissoras causaram uma crise de identidade no Brega, alguns foram cantar suas músicas em ritmo de forró, outros vestiram mais roupas e tiraram os conteúdos picantes das letras, outros simplesmente acabaram, e outros voltaram para a periferia, onde podem cantar o que querem, vestir o que querem, dançar com querem e sempre vão ter seu público, como sempre o tiveram mesmo antes de invadir os meios.
Entrevistei os componentes da banda, também estão na média da estatística, seus hábitos culturais e de consumo não fogem à regra.
A apresentação no programa é curiosa pois o figurino a la Michael Jackson e os movimentos a la Rick Martin nos deixa claro suas influencias, imaginem juntos a roupa do Pop com o rebolado do ex-Menudo e as letras do príncipe do calypso? FENOMENAL é muita hibridização, é muito ressignificação.
O certo é que estou tentando me adaptar ao meu objeto, é um processo rico e de construção paulatina do conhecimento sobre ele, é quase impossível não vir com conceitos preconcebido, mas tenho muito o que aprender e que limpar todas as obviedade que achei que encontraria e reconstruir meus conceitos.