terça-feira, 20 de abril de 2010

A material girl do brega está de volta. Schneider Carpeggiani JC 20.04.2010

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Schneider Carpeggiani- carpeggiani@gmail.com

A material girl do brega está de volta
Publicado em 20.04.2010

A vocalista Michele Melo, agora sócia de 50% da Banda Metade, chega hoje ao Armazém 14 com a festa Segura a chapa, depois de arrebentar bilheterias em casas noturnas do subúrbio



Michelle Melo é Balzac, é Flaubert, de tanto que filosofa sobre aquilo que a tradição burguesa fez a gente chamar de romance. “A mulher quando ama fica ‘muleca’”, teoriza. Mas parece que a teoria (por enquanto) deixa pouco espaço para a prática. Não há tempo em sua agenda para qualquer “mulequice”. “Eu disse a todo mundo da banda para colocar a vida pessoal de lado um pouquinho. Há muito trabalho para ser feito”, confessa a vocalista e (agora também) sócia de 50% da Banda Metade, com a segurança de uma estrategista em campo.

Não é fácil dispor da atenção de Michelle por estes dias. Seu retorno à Banda Metade restituiu sua aura de popstar do brega recifense, ou melhor de primeira e única popstar do brega recifense. “É tanto amor que a gente tem recebido que eu não acredito. O povo me trata como uma deusa. Teve uma menina que pulou no palco e puxou um pedaço do meu cabelo”, lembraria a cantora mais tarde para a reportagem do JC. Mais tarde, só mais tarde, porque ela nos deixou quase duas horas esperando na Praça de Alimentação do Shopping Boa Vista (a ideia do local foi dela), sexta passada, para a realização dessa entrevista. A espera compensou.

Em meio a bandejas do restaurante Bonaparte e ao cheiro de self-service de comida chinesa ao lado, ela surgiu em nossa direção: cabelo louro em profusão, minissaia, blusinha com estampa da Madonna (“Uma artista completa”), um celular tocando sem parar, a produtora e o novo companheiro de palco, Thiaguinho. Uma popstar sempre se atrasa e nunca chegaria sozinha, lições incontornáveis que Michelle sabe de cor. O brega é rock’n’roll.

“Meu amor, me desculpe, que está uma loucura. Só hoje tem dois shows”, disse, meio ‘muleca’, sabendo que era impossível negarmos o perdão nesses termos. O retorno da cantora ao palco aconteceu mês passado, com um show no Bar Bate Papo, no Arruda, e tem trafegado pelas zonas Sul e Norte do Recife como um tanque militar. Lotou o 100% Brasil, arrancou suspiros do público gay numa noite hipermegalotada no MKB, arrasou no QG do blues made in Domingos Ferreira que é o Audrey e hoje chega ao Armazém 14, com a festa Segura a chapa, sob a tutela Sem Loção/Putz!

Em 2010, todo mundo quer Michelle. Mas o que Michelle quer? “Este carinho tem sido ótimo, mas a galega aqui gosta de dinheiro”.

Nesses cinco anos longe da Banda Metade, Michelle tentou de tudo. Saiu em carreira solo, fez sucesso com uma música sobre um demorado banho de espuma e até se aventurou pelo forró com uma banda chamada (ah, Freud, só você para explicar) Forró Fetiche, em que aparecia provocante como uma cowgirl. “A banda continua. Eu vou colocar outra vocalista e está tudo resolvido”, discorre a empresária-Michelle e não a ‘muleca’-Michelle. “Sou inquieta, gosto de fazer coisas diferentes”.

É curiosa essa matéria impalpável e brincalhona a que chamamos de destino. Conversamos com Michelle pouco antes do último Carnaval sob o juramento de uma condição – “Não quero falar sobre o brega, hoje eu sou forró”. “Eu não podia falar sobre brega se estava fazendo forró. Precisava ser coerente com as minhas escolhas”, diz hoje.

Michelle diz que, no tempo em que ficou longe da Banda Metade, o brega manteve-se intacto como preferência maior do povo – apesar de ter incluído uma outra suingueira no novo repertório. Sucessos como Topo do prazer e Melô do babydoll (aquela que fala do amor como um fenômeno lógico da natureza, “e quando você toca em mim, ah, ah, eu fico toda molhada”) continuam tão eficientes quanto antes. O segredo da longevidade reside na interpretação sensual dessa mulher que foi a primeira a gemer no brega recifense. “Eu não forço minha sensualidade, sou tão ‘muleca’”, define-se, sabendo no fundo que esta é sua fase material girl.

» Festa Segura a Chapa com Michelle Melo e DJs Lala K, Lady KheKhe e Original DJ Copy: hoje, às 23h59, no Armazém 14. Ingressos: R$ 15, à venda no Bar Central e na Loja Vulgo

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